…Mas ainda há quem se admire com isso
Quem ouve o ronco de uma moto turbinada já imagina um marmanjão com cara de mal, vestido de couro dos pés a cabeça. O estereótipo existe, mas não representa a diversidade de tipos e estilos da turma que mantém uma intensa relação de amor com as motocicletas. Apesar de os homens dominarem em número a trupe de apaixonados, muitas mulheres têm deixado a garupa para assumir a posição de piloto. “Lugar da mulher é no comando do guidom”, sentencia a jornalista Elisa Vitachi.
Seja conduzindo as pequenas FYM de 150 cilindradas ou as caríssimas e corpulentas Harley Davidson, as mulheres conquistam mais espaço sobre duas rodas a cada dia. Mesmo assim, há quem se admire quando elas passam no comando de suas máquinas, observa a faturista Ana Carolina Gardini.
As motociclistas não negam que provocar olhares é uma tremenda massagem no ego. Porém, não querem para si a fama de peruas motorizadas e muito menos de barbeiras. Algumas, ainda novatas, planejam dominar outros itens além do ponteiro do tanque de combustível. “Eu não entendo de mecânica, mas sei o que cada indicador no painel de instrumentos mostra”, avisa a psicóloga Maria Imaculada Carvalho. Elisa também não fica na mão quando a máquina apresenta problema. “Apesar de não ser mecânica, procuro entender o funcionamento da minha moto”, afirma.
Com o motor girando e com o domínio pleno do painel de instrumentos, é hora de as beldades pegarem a estrada. A sensação de liberdade que uma motocicleta proporciona é o que mais fascina e cativa as novas fãs. “Quando se viaja de moto, você deixa de ser espectador e se torna parte da paisagem”, descreve a consultora de beleza Cristiane Fernandes.
A rotina de ir ao trabalho, ao shopping ou até mesmo às baladas sobre uma moto desperta sensações. “A noção de liberdade é indescritível”, afirma Elisa. A jornalista costuma encontrar as amigas motociclistas no Cambuí. “É engraçado chegar de moto em um bar. Todo mundo olha, principalmente os meninos.”
Utilizar a moto no trânsito pesado da cidade envolve outras questões. Praticidade e economia são algumas. “Minha moto faz 40 quilômetros por litro, é muito econômica”, diz Ana Carolina. A faturista aproveita o baixo consumo de combustível para curtir alguns recantos da cidade com o namorado. “Outro dia, fomos ao observatório, no Pico das Cabras, em Joaquim Egídio, e a moto consumiu apenas dois litros”, comemora.
Nas ruas ou nas estradas, com o vento batendo no rosto, as mulheres estão descobrindo por inteiro um prazer que até bem pouco tempo só desfrutavam em parte, como coadjuvantes. “Gosto de viajar na garupa da moto do meu marido porque somos muito unidos, mas pilotar é uma sensação maravilhosa”, resume a psicóloga Maria Imaculada.
Elvira, apelido de uma Suzuki Intruder 125, é considerada como melhor amiga por sua dona, a jornalista Elisa Vitachi. A relação entre as duas dura três anos e é fruto de uma decepção. “Eu namorava um rapaz que curtia muito motocicleta. Quando acabou o namoro, ficou o amor pela máquina”, conta. A primeira moto de Elisa foi adquirida quando a jornalista tinha 18 anos de idade. “Fui demitida e a comprei com o dinheiro da rescisão. Foi um investimento e a vendi um mês depois.”. Em 2005, depois de perder o carro em um acidente, acabou optando pela compra de uma moto. “Resolvi tirar carta e comprei a Elvira.”
Desde criança Cristiane Fernandes sonhava pilotar uma moto. “Meu irmão tinha e eu dizia em casa que iria ter a minha quando crescesse”, lembra. O sonho se aproximou da realidade quando Cristiane resolveu participar de um consórcio. “Tirei habilitação e me preparei para receber a moto”, conta. Quando terminou de pagar as prestações, a consultora de beleza teve medo de enfrentar a cidade sobre duas rodas. “Minha família achava perigoso e eu acabei vendendo a moto.”
Mas a paixão por pilotar acabou prevalecendo e Cristiane resolveu enfrentar seus medos. Há dois anos e meio, com a ajuda do marido, ela passou a treinar até se sentir segura o suficiente para pilotar sozinha. Com o marido e os amigos, hoje ela passeia pelas cidades da região de Honda Falcon 400. “Viajamos todos os finais de semana. É muito bom”, comemora.
O irmão de Luciana Incrucci foi o responsável por despertar na nutricionista uma grande paixão por motos. “Ele sempre foi um aficionado e me ensinou a pilotar”, diz. A vontade de aprender era tanta que, ainda adolescente, Luciana treinava numa Yamaha R1, modelo que pesa quase 200 quilos. “Ela ainda é grande para mim, mas meu irmão sempre ajudou.”
Luciana está habilitada desde os 18 anos e, de lá para cá, são 9 anos de carteira e amor pela máquina. Na garagem, ela mantém duas motos: uma FYM 150, que utiliza na cidade, e uma FYM 250 Custom, para rodar na estrada. “Amo as duas”, garante.
Ao acompanhar de perto o interesse do marido pelas motocicletas – hoje ele pilota uma Harley Davidson Deuce –, a psicóloga Maria Imaculada Carvalho acabou se rendendo à paixão. “Acabei me apaixonando também”, ressalta. Flechada pelo “cupido motociclista”, Imaculada passou a esperar ansiosa pelos passeios no final de semana. “Eu ficava na expectativa de pegar a estrada.”
Com 20 anos de garupa, a psicóloga sentiu que era o momento de assumir o comando da moto. “Não tinha coragem de pilotar, mas meu marido me incentivou e acabei tirando a habilitação”, lembra. A recompensa foi uma Harley Davidson Deuce presente de Natal que ganhou em 2005. Ela participa do clube de motociclistas da Harley Davidson Campinas. O grupo viaja pela região todos os finais de semana.
Sem esquecer itens de segurança como capacete, jaquetas de couro e botas, as motociclistas acabam dando um jeito de não ocultar a beleza. “Não saio com minha moto sem antes passar um batom, um blush e escolher uma roupa bonita”, conta a psicóloga Maria Imaculada Carvalho. Se de um lado o capacete protege a cabeça, de outro desalinha os cabelos escovados. O vento é outro vilão, por ajudar a desfazer a maquiagem. Para tais inconvenientes, a solução é ter à mão um kit beleza. “Estaciono a moto e já retoco a maquiagem e ajeito o cabelo”, conta a faturista Ana Carolina Gardini.
A moça, que utiliza a moto para ir do trabalho às baladas, conta ainda que escolheu o modelo scooter pela economia, pela possibilidade de pilotar com salto alto e ainda pelo fato de a moto dispor de um bagageiro, onde guarda bolsa e nécessaire.
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Artigo da Revista Metrópole de 10/02/2008
Reportagem de Eduardo Gregori ( gregori@rac.com.br )
Postado neste blog por Maria Imaculada