Duplas sobre duas rodas

Reportagem no Jornal do Cambuí de 17/10/2008Casal do Cambuí, ao lado de Outros cinco, percorrerá 8 mil quilômetros em motocicletas

A vida de Zé maria e Maria Imaculada é movida a roncos. Não os dos humanos, mas os de uma preciosidade que o engenheiro guarda no condomínio onde mora, na Coronel Quirino. Para conhecê-la, é preciso pedir permissão ao casal e, num solavanco só, tirar a capa contra poeira que cobre a motocicleta. Nem é preciso observar muito para chegar a conclusão que trata-se de uma Harley-Davidson. Ainda não foi batizada e seus donos a chamam pelo modelo, Heritage, de 1.600 cilindradas. O zelo pelo qual Zé e Imaculada  cuidam da moto se assemelha ao oferecido a um filho. É por essas e outras que, como dois pais corujas em um dia de apresentação do filho na escola, o casal está ansioso com a primeira viagem internacional da moto. Ao lado de mais cinco casais e suas respectivas Harleys, o trio cairá na estrada entre outubro e novembro. E o destino final ? Chile.

Antes de conhecer o roteiro da viagem, é necessário descobrir de onde vem a amizade entre Zé maria e Imaculada, com Jeff e Maria Helena, Hélio e Cristiana, de Campinas, e Betão e Marli, de Limeira, e Gera e Solange, e Marcão e Beth, de Salto. Os aventureiros trombaram com suas motocicletas pela primeira vez num sábado na concessionária da Harley-Davidson na Moraes Sales, ponto de encontro do HOG (Harley Owners Group), de Campinas. Zé Maria, que afiliou-se à turma em 2001, quando adquiriu sua primeira Harley, adianta-se para contar um pouco do grupo. “Aos finais de semana, todos os proprietários dessas motocicletas se reúnem. Depois de um café da manhã, saímos a passeio”. Na lista de cidade que ouvem os roncos das motos estão Piracicaba, Serra Negra e Atibaia. “No final da tarde, voltamos”.

O grupo campineiro no total, arrisca o número, é composto por mais de 200 pessoas, mas nem todos são assíduos como o sexteto da motocicleta. Há ainda viagens mais longas aos encontros nacionais do HOG Brasil, realizados duas vezes por ano em cidades turísticas. E, para não perder o costume, os seis casais são figurinhas carimbadas. Já passaram por Búzios, Angra dos Reis, Campos do Jordão, Bonito além de Araxá e Tiradentes.

“Foi assim que fortalecemos a nossa amizade”. Também, não é para menos, já que todos do sexteto da motocicleta dividem gostos iguais. Não só a paixão por duas rodas, como também a por comidas, músicas e estilo de vida um tanto parecidos. Outro aspecto importante, que cabe a Betão contá-lo: “Todos nós ou somos  quarentões ou cinquentões”, brinca o aventureiro, de 54 anos, arquiteto quando não está montado em uma de suas duas possantes (tem uma Elektra e outra Heritage).

Com o intuito de despistar a ansiedade com relação à viagem do Chile, Zé Maria abre um album com fotos e lembranças da viagem de parte do sexteto aos Estados Unidos. Em 2006, depois de alugar as motocicletas em Las Vegas, o grupo partiu rumo a Barstow numa viagem de 1.600 quilômetros, feita em 7 dias. “Fizemos parte da famosa Rota 66, além disso passamos por cidades fantasmas, como Oatman e Calico, e paramos no Bagdad Cafe, em Newsberry Springs, cenário do filme de mesmo nome”. Já em 2007, quatro deles, em 13 dias, viajaram 3.500 quilômetros. De paisagem, puderam comtemplar as do Yellowstone National Park e parte das Montanhas Rochosas. “Não pegamos tanta neve”, diz, um pouco frustrado. Das duas vezes, ao contrário da viagem ao Chile, foram escoltados por um carro de apoio. “Sempre pilotado por um dos casais”, frisa.

Eles partem amanhã para Santiago

Sexteto da motocicleta levará poucas roupas: primeira parada será Guarapuava

Sexteto da motocicleta levará poucas roupas: primeira parada será Guarapuava

Na mala de viagem, poucas  mudas de roupa. No máximo, duas calças, além da do corpo de couro, peças íntimas, um par de camisetas e tratando-se de um percurso como esse, um agasalho reforçado. “esse vai no corpo, mesmo”, explica Maria Imaculada. A mala, que está mais para uma trouxa, nem parece que será usada durante 23 dias, num trajeto de quase 8 mil quilômetros. “Nas paradas, vamos aproveitar para lavá-las”, adianta Marli, esposa de Betão, conta uma tática que emprega nas expedições. “Levamos poucas roupas porque no caminho compramos novas”. Mas não são apenas as mulheres que reclamam, os homens também se queixam da economia de vestuário. “Como não vamos ter o carro de apoio, em que podíamos colocar a roupa desejada, será uma das maiores dificuldades”, avalia Betão. A aventura, que começará amanhã (18) logo pela manhã, terá como primeira parada Guarapuava, no Paraná (ao todo serão 600 quilômetros). A média de trajeto percorrido por dia ficará entre 124  e  740 quilômetros. O que não intimida o sexteto da motocicleta. “O maravilhoso não é chegar na cidade, mas pilotar 12 horas uma Harley e conhecer novas culturas e comidas diferentes”, conta Betão. O percurso, traçado a meses, contemplará Santa Fé, Mendoza (“passaremos pela região de rios e vinícolas”). Viña del Mar, Santiago, entre outras. Mesmo com tanta fartura de paisagem, uma em especial é a mais aguardada pelos casais – a travessia pela Cordilheira dos Andes. “Estaremos no pé do Aconcágua. Imagine só a emoção. Estamos contando com o gelo”.

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